Como arruinar a (boa) reputação em 30 segundos? Fácil, fácil!

Abrir a porta à vizinha da frente, que quer saber se ouço o barulho da ribombante festa universitária que se passa no andar de cima.
Até aqui, normalíssimo, não tivesse eu acabado de me indulgenciar com 2 Mon Cheri e bafejar a vizinha com um etéreo aroma a licor de cada vez que maldizia as ninfetas universitárias (mentira! Elas são mais simpáticas e educadas que a empertigada do quinto andar, que até o aspirar tem que ser bem sapateado ao andar de baixo, por isso vou defendê-las enquanto puder).
Sou oficialmente a vizinha ébria que, mal o miúdo se deita, vai carpir as agruras com absinto e outras mafarriquices.
Se o Mon Cheri tivesse mentol ou algo assim, podia sempre desculpar-me de forma higiénica: que tinha acabado de lavar os dentes e de usar um colutório fabuloso, que me deixa a boca asséptica!


Bem, assim sendo, a próxima festa é cá em casa!

A minha sogra quer acabar comigo!

Chegam as (tão, mas tão) ansiadas férias, que até já andava com um humor de hiena (bem sórdido), a contar os dias, que nunca mais chegavam.
Neste ano, optámos pelo desporto radical chamado "planos? zero!". Por mim, tinha ido directa para Nova Iorque e só dormia no avião (à ida e na volta, mai' nada!), tal era a avidez por agitação fora da caixa e cultura e estalos de sabor na boca (nos melhores restaurantes, tascas, whatever!). E o meu marido andou a protelar até à vespera das férias uma decisão (verdade, verdadinha que não estou a exagerar que nem uma tresloucada; ele é balança, não se pode ser perfeito).
Lá marcámos hotel no Booking e, só para dar uma dignidade, escolhemos um pacote romântico (afinal eram só mais 10 euros por um late check out, bombons e espumante que custa 3 euros no hipermercado).

Ainda dava para passar uns dias em casa dos sogros, antes de nos aventurarmos por terras do Bussaco, em hotel com piscina olímpica e spa e tudo e tudo. E eu pensei "perfeito, que faço a depilação com toda a calma (ritual completo: exfoliação, depilação e creme com massagem, coisa que só me lembro de ter feito antes de me casar!) enquanto a sogra mata saudades do neto e não preciso de me preocupar em planear refeições tão cedo!".

Pois tarde descobri que a senhora minha sogra (amorooosa) já tinha um plano pérfido traçado para mim (que ela é reformada, tem tempo para pensar bem nestas coisas). Começou logo com o jantar que nos ofereceu assim que chegámos: uma lasanha caprichadona, daquelas que demoram 3 dias a digerir. Depois vieram os pequenos almoços com manteiga de amendoim (que é mais saudável que a manteiga tradicional, não fosse a minha tendência de pôr uma camada da mesma grossura que a fatia de pão). E só mais um bolinho e um pampilho, que não faz mal a ninguém e pronto, todo o trabalho de um Inverno a lutar estoicamente contra as gorduras pelo ralo abaixo. Assim, num piscar de olho da sogra.

E agora, como é que me exibo em biquini com dignidade? Agora que as carnes se bamboleiam com um ligeiro treme-treme de cada vez que dou um passo, para não falar do flanco com alguma fofura?
Saio à rua à espanhola: com a maior capeline que tiver, os óculos mais escuros e abrangentes e um fato de banho bem folclórico, com flores e correntes douradas, estilo Versace nos anos 80 (olham para tudo menos para o meu traseiro!). Se me virem, finjam que não me conhecem, combinado? E entretanto, empenho-me nos jogos de cama com o meu marido. Exercício aeróbico (até o nome transpira romantismo à Zezé Camarinha) resolve-me o pneu e esgota-me o homem, que nem sonha em fazer nada com alguém que se lhe entre pelos olhos adentro. Afinal, foi a mãe dele que começou isto tudo!

PS - Escusado será dizer que a depilação foi feita na véspera da partida para o Bussaco, bem à pressa (tanto que esqueci a gillete em casa, como convém!). E facilmente descubro que o meu vizinho de quarto está melhor depilado que eu...

O Indiana Jonas de meia tigela (de manteiga!)

O meu marido tem um instinto arqueológico... subtil, é certo, mas está lá!
E como se manifesta? Num lustroso e lúbrico pacote de manteiga.

É que insiste em ir esgaravatando a pasta, dia após dia, até deixar um buraco bem no meio da dita, tornando impossível aquele deslizar que se vê na publicidade e toda a gente quer repetir em casa. Aquele deslizar da faca de uma ponta a outra da embalagem. É por isso que os pacotes são achatados e alongados, gente! Só por isso, para usufruirmos daquele deslizar e sentirmos a suavidade de 10 gramas de gordura pura que vamos esfregar no pão (o meu marido usa muito mais que isso, mas é porque ele gosta de pão demolhado). Porque tudo o que fica alojado durante 30 anos nas coxas e na barriga (e nas artérias) é assim: lindo, suave (ok, as batatas fritas não são suaves mas são crocantes, que vai dar ao mesmo... e as pipocas também) e delicioso até ao absurdo.

Voltando atrás, gostava de perceber o que é que ele espera encontrar no fundo da embalagem de manteiga. Não há tazos, nem vales de desconto, nem ovos de dinossauro.
Mas vá, nem tudo é negativo. Suspeito que as brincadeiras na praia com o nosso "piqueno" vão incluir muitas escavações. E com isso, pode ser que dê uma folga à manteiga.
Isto não soa nada bem...

Cheira-me que a moda não se fica por aqui

Estava eu, aparvalhada porque eram 7 e meia da manhã, a ver Baby TV, enquanto o meu filho brincava com puzzles, escumadeiras e latas de atum (daquelas grandes, de 900g, que têm tampa de plástico e que eu reutilizo para guardar as peças dos puzzles, que é o máximo que consigo fazer de bricolagem/reciclagem/diy), quando começa todo um sofisticado videoclip com a música "Jardim da Celeste".

Até aqui, aceitável, tendo em conta o facto de estar com um pijama em que a camisola estava descoordenada dos calções (os calções correctos devem estar enfiados no cesto da roupa para engomar; a bem dizer, eu não tenho um cesto, tenho um poço de roupa para passar a ferro!).
A questão é que a letra foi totalmente desvirtuada e subvertida!
Começa então a lengalenga com "eu fui ao jardim da ANA, giroflé, giroflá!"
Eu que ainda estava em jejum, quedei-me emocionalmente abalada.



Sobrevivi, com muita mágoa, ao aviltamento dos Estrumpfes (aka, para mal dos meus pecados, Smurfs, que mais parece um grunhido de desprezo neandertaliano); seguiu-se a desonra da Anita (que ela mudasse o apelido porque se tinha casado entretanto até aceitava, agora "Martine"...) e aí eu pensei "mau, Maria, à terceira vira moda!". Pumba, vem o golpe de misericórdia à Celeste.



Nós, pais, já sabemos que temos que enfrentar o hiato geracional na terrível adolescência dos nossos filhos (felizmente ainda muito longínquo para mim!) e tentar chegar até eles transpondo esse obstáculo a que chamam os mais sofisticados de "generation gap" com a ginástica do Indiana Jones e as artimanhas do MacGyver (vá, esses não mudaram de nome... ainda!). Agora querem antecipar isso com comportamentos destes. Porque nós, que já começamos a ficar rezingões e jarretas e a opormo-nos a algumas modernices porque "no nosso tempo é que era", ficamos com o papel que nem a Rita Pereira quer representar do velho do Restelo. E os miúdos ficam a olhar para nós, em estase. "Estrum-quê? Quem é a Anita? Deve ser a vizinha de cima, a quem o pai piscou o olho, no outro dia. Acho que é estudante universitária, relações públicas ou lá o que é. E a Celeste deve ser a senhora que lava as escadas do prédio..."

A sério, vão mesmo dar-me esse papel, a mim que tenho uma criança pequena nos braços para criar? E que instinto de travestismo é esse, gente? Lá porque a lei permite não vamos todos a correr à conservatória aos 18 anos mudar o nome. E se sim, pelo menos consultem os venezuelanos. Esses é que sabem engendrar nomes com pompa e fausto, basta ver as novelas deles.
Já sei. Menos, Vanessa, menos...

Eu sei a verdadeira causa do alerta amarelo...

... E não é novidade para ninguém!
É que eu estava a pensar lavar as cortinas nesta semana... (depois de quase dois anos sem sentirem o sabor da àgua naquelas fibras... isso faz de mim uma porquita, não faz?)
Só acho um bocado desnecessário estender o drama até 12 distritos mas eu não faço a coisa por menos, não dá!

Por favor, alguém que me explique...

... porque é que o meu filho raspa os sinais do meu pescoço, com a mesma avidez com que um reformado "papa" raspadinhas na Casa da Sorte?

Vou falar do que ninguém tem, a não ser eu!

Quando uma mulher começa a fazer as contas aos dias que lhe faltam para exibir na praia as riscas de tigresa que a gravidez fez questão de lhe deixar na barriga, o pânico instala-se.
É todo um revisitar da adolescência, em que a última coisa que uma pessoa quer é ser diferente dos demais (mas ainda assim conseguir "ser único"!; quem é que nos mete estas coisas na cabeça?): já estou a ver corpos esculturais e bem untados com óleo de argão e lá pelo meio, desgarrada, uma recém-mãe com estrias encarniçadas, que até um míope consegue ver a 3km!

E se pensamos usar um fato de banho para esconder marcas perfeitamente orgânicas, resultantes de um processo natural como o estiramento da pele na gravidez (se fossem tatuagens ou qualquer outro artifício, não estávamos aqui a falar), chamam-nos púdicas.

E se assumimos as estrias em todo o seu esplendor, é porque somos desleixadas, que nem ponta de creme usámos durante toda a gravidez, mesmo que tenhamos vivido todo um verão escaldante gravidérrimas e com toda a roupa a colar, por causa daquele creme óptimo (que entretanto se mistura com suor).

O mais engraçado é que, mais uma vez, as estatísticas (mas ainda alguém acredita nisso?) dizem que cerca de 80-90% das mulheres que engravidam acabam por ter estrias e que há factores genéticos fortes a influenciar a sua incidência. A aceitação parece tão mais simples, não é? Mas depois, falo com as amigas e as não tão amigas e ouço o impensável: "por acaso eu fiquei sem nenhuma estria, ó pá, foi o máximo!" e fico tão mas tão feliz por elas (todas, por elas todas! E tão feliz que vou só ali cortar os pulsos e já volto).

PS - E se usar um biquini com padrão tigresse, será que as estrias contam como camuflagem?